Desde
o final do século XIX, as pesquisas de campo desenvolvidas pelo diretor do
Museu Paraense de Belém, Emílio Goeldi (1859-1917), ajudaram a divulgar a
cultura Aristé, chamada também Cunani, o nome da região amapaense onde foi
encontrado o sítio arqueológico. As características da cerâmica e das
estruturas funerárias que a abrigam permitiram dar a conhecer este patrimônio
arqueológico da foz do Amazonas, tanto como as culturas Maracá e Marajoara.
São
certamente as urnas antropomorfas as mais representativas desta cultura
arqueológica hoje em dia. Além da grande variedade de decoração pintada e da
presença de apliques representando traços e membros humanos, a presença de
perfurações na base de algumas delas ainda desafia os investigadores.
Segundo
Goeldi (1905 : 24), essa última característica deve « ter tido o seu
fim especial » e adiciona em nota de rodapé que « se se tratasse de
um objecto ceramico de uso domestico, julgar-se-ia, que a bandeja e os
alguidares perfurados poderiam ter servido á certo fim culinario ».
Entretanto,
Goeldi (1905 : 24) tem duas hipotes principais : a primeira é que os
furos foram feitos para permitir que os insetos necrófagos acessassem o
interior das urnas. No entanto, ele não está totalmente convencido porque,
segundo ele, no sítio arqueológico em questão, nenhuma dessas vasilhas está
fechada com tampa. A segunda interpretação, em sua opinião a mais provável, é
que os furos teriam a função de drenar os sucos de decomposição. Enfim, Goeldi
propunha que eventualmente, um líquido qualquer teria sido introduzido
intencionalmente na urna para fluir através dessas perfurações.
E se
procurarmos uma interpretação fora do prático e do concreto ? E se a
função desses furos teve outros significados na esfera do simbólico ?
Estampa II in Goeldi, 1905
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
GOELDI,
Emílio, 1905 – Excavações archeologicas
em 1895. 1 parte : As cavernas funerarias artificiaes dos Indios hoje
extinctos no Rio Cunany (Goanany) e sua ceramica, Memorias do Museu
Paraense de Historia Natural e Ethnographia, Belém. 49pp.
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